O cantor, compositor, pianista e maestro foi um dos expoentes do movimento nascido na Zona Sul do Rio
Tom Jobim foi o segundo compositor mais regravado do mundo |
Há 55 anos, uma
série de encontros para tocar e ouvir música na casa de uma jovem chamada Nara
Leão deu origem a um grupo que compunha canções inspiradas no amor, no sorriso, na flor e
no mar de Ipanema, todas elas com letras e melodias muito diferentes das canções
da época.
Conhecida entre
o público da Zona Sul por conta dessas reuniões, que eram muitos comuns naquela
época, a turma formada por Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Nara
Leão e outros cantores que se tornaram famosos por conta do movimento.
Inspirados nas canções de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, uma dupla já famosa
naquele tempo por conta da peça de teatro Orfeu
da Conceição, de 1956.
Além dos dois
músicos, que formaram a parceria musical de maior sucesso no Brasil, a turma de
Copacabana estava encantada também com um baiano, que além de tocar violão com
uma batida diferente tinha também uma maneira minimalista de interpretar as
canções, chamado João Gilberto.
Em 1958, o
cantor, que é considerado um dos principais expoentes da Bossa Nova, lançou um
compacto simples que trouxe as canções Chega de Saudade e Bim Bom. Mais
popularmente conhecido como 78 rotações, esse foi o primeiro registro oficial
do movimento, pois embora o LP Canção do
Amor Demais, lançado por Elizeth Cardoso alguns meses antes, fosse composto
somente de músicas da dupla Tom e Vinícius, o disco não apresenta somente
características da “Nova onda”, termo pelo qual o estilo também era chamado,
pois a cantora tinha forte influência do Samba-canção.
De acordo com o
músico Fabiano Negri, a experiência de Tom Jobim como maestro foi muito
importante para a construção dos arranjos das canções que caracterizam o
movimento, pois “como ele foi um músico
extremamente estudado, trouxe a complexidade harmônica do jazz para o nosso
samba. Talvez ele seja o pilar central do estilo junto do João Gilberto”, disse.
E para relembrar
essas músicas, cuja maioria foi composta pelo carioca Antônio Carlos Brasileiro
de Almeida Jobim, mais conhecido pelo público como Tom Jobim, em parceria com
Vinícius de Moraes, a Nívea e o
jornal Folha de S. Paulo resolveram
fazer homenagens ao amigo do Poetinha (apelido dado a Vinícius pelo próprio Tom)
lançando o show Viva Tom Jobim e a
coleção Tributo a Tom Jobim
respectivamente.
Apesar de terem
sido lançadas quase ao mesmo tempo, o que poderia ser visto como uma competição,
na verdade as duas homenagens têm a mesma finalidade: levar a obra de Tom Jobim
ao público que não conhece ou que gostaria de revisitá-la, só que de formas
diferentes.
No caso da Folha de S. Paulo foi elaborada uma
coleção que traz 20 CDs acompanhados de livros, que contam histórias
relacionadas a esses trabalhos e falam também das músicas que deles fazem parte.
Além disso, de acordo com o site da Folha sobre a coleção, “Os livros que acompanham os CDs da coleção trazem textos de
críticos e repórteres especializados em música popular brasileira, que inserem
cada álbum em seu contexto histórico e artístico. Todos os volumes incluem,
também, uma análise do repertório do respectivo álbum, fotos históricas do
compositor, de seus parceiros e outros personagens”.
Apesar da
iniciativa em prol da valorização da cultura brasileira, a coleção Tributo a Tom Jobim peca pelo fato de
divulgar que todos os álbuns que fazem parte dela foram lançados originalmente
por Tom Jobim, quando na verdade os dois últimos álbuns desse tributo, que
estarão nas bancas somente em agosto, consistem de músicas de Tom interpretadas
por outros cantores.
Enquanto a Folha
homenageou Tom Jobim disponibilizando álbuns dele para a compra, a Nívea, que
no ano passado patrocinou uma série de cinco shows de Maria Rita dedicados ao
repertório de Elis Regina, desta vez lançou um projeto nos mesmos moldes do Viva Elis, mas dedicado à obra de Tom
Jobim e tendo Vanessa da Mata como intérprete da obra do maestro em seis shows
gratuitos.
Intitulado Nívea Viva Tom Jobim, o projeto, que
contará com apresentações de Vanessa da Mata revisitando o repertório de Tom em
Salvador, Brasília, Recife, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, comemora
os 50 anos de The composer of Desafinado
plays, primeiro disco solo de Tom e que traz Garota de Ipanema no repertório. A música é a segunda mais executada
no mundo, perdendo apenas para Yesterday,
da dupla mundialmente famosa John Lennon e Paul McCartney. Ainda em 1963, foi
gravado nos EUA o disco Getz/Gilberto featuring
Antônio Carlos Jobim, vencedor do Grammy e um dos mais importantes da
história.
De acordo com
Larissa Kujavo, assessora de imprensa da empresa patrocinadora do evento,
projetos como esse são importantes porque “Através da iniciativa, a Nívea reforça
o compromisso de promover cultura no país por meio do tributo a um grande
talento da música popular brasileira, reapresentando a diferentes gerações
pérolas do cancioneiro que estão entre as mais fortes lembranças musicais da
memória nacional”.
Embora homenagens como as que Tom Jobim está recebendo
sejam importantes para que o público aprenda a valorizar a música nacional, uma
vez que boa parte dos artistas brasileiros são mais reconhecidos no exterior do
que no próprio país, tributos como os da Folha e da Nívea nem sempre são
suficientes para manter a obra de um artista na memória do público.
Segundo Negri, poucos brasileiros apreciam uma música
bem construída e com letras poéticas, o que aliado à falta de educação musical
obrigatória nas escolas dificulta para que o público saiba diferenciar não só a
música boa da ruim como também o entendimento de letras e arranjos mais
complexos, que são recorrentes na obra de Tom. “A música do Tom Jobim não é uma
música do povão. Sua música sempre foi elitizada. Hoje em dia canções mais
elaboradas não estão na vitrine da nossa música popular. A maioria dos artistas
que aparecem não tem nenhum vestígio da música de Tom Jobim em suas influências.
Em contrapartida, se vasculharmos os artistas do segundo escalão - em termos de
sucesso - veremos que o Tom está muito vivo dentro do que é feito com qualidade
no país”, afirmou.
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