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Revivendo a Trilha: Pra não dizer que não falei das flores

Hoje completam-se 50 anos do início do período mais vergonhoso da história do Brasil. Ao ver o presidente do país ser deposto naquele sombrio 31 de março de 1964, os brasileiros perderam a liberdade, os direitos e, no caso de alguns, até a vida.
Apesar de ser impossível comemorar uma data como essa, ela precisa ser lembrada para que nunca mais se repita, pois ninguém consegue viver com dignidade se for privado de seus direitos e muito menos suporta ser completamente adestrado por quem quer que seja, mesmo que esse alguém seja um governo que prende, tortura e mata quem não está satisfeito com ele.
Por conta dessa data, escolhi postar a música que, para mim, simboliza não só o quão longe a música pode chegar quando é usada para passar mensagens realmente válidas como também a importância da união para lutar por uma causa e também o quanto um governo pode ser cruel e totalmente opressor, a ponto das pessoas não poderem falar o que pensam abertamente. 
É possível imaginar que a situação era desesperadora naquela época porque, se compondo Pra não dizer que não falei das flores e outras músicas cujo único defeito era dizer a verdade um artista famoso como Geraldo Vandré teve que  fugir do país como se fosse um criminoso, o que acontecia quando uma pessoa comum começava a expor suas ideias com certeza devia ser muito pior. 
E por falar nessa canção tão importante, ela conseguiu enfrentar a censura, a Globo e ficou em segundo lugar no FIC, o III Festival Internacional da Canção, que era transmitido pela Globo. Embora Sabiá, a música campeã, seja belíssima e desmerecer Chico Buarque e Tom Jobim seja praticamente uma afronta a MPB, a verdade é que Pra não dizer que não falei das flores merecia muito mais ter vencido o Festival por trazer em sua letra tudo o que as pessoas tinham vontade de dizer naquele momento e não podiam, pois certamente despareceriam imediatamente. 
No ano do Festival, 1968, o regime começou a ficar especialmente insuportável, não só por causa da censura mais dura ainda e das prisões e repressões, que já haviam se tornado comuns, como também do famoso AI-5, que terminou de enterrar qualquer chance de democracia no país e deu o aval para que o governo fizesse o que bem entendesse, como prender Veloso e Gilberto Gil, que além de presos foram praticamente expulsos do Brasil meses depois.
Em 2011, a música fez parte da trilha sonora da novela Amor e Revolução, do SBT, primeira emissora que teve coragem de expor os detalhes desse período negro e ainda trazer depoimentos de algumas pessoas que foram presas, torturadas e até de parentes dos chamados desaparecidos políticos, que todo mundo sabe que foram assassinados, mas que até hoje ninguém achou os corpos. 
Apesar de a Globo ter feito a minissérie Anos Rebeldes em 1992, por alguma razão a emissora nunca fez uma novela tendo esse tema como principal, o que teria sido muito bom para que se pudesse conhecer ainda mais detalhes, mesmo sabendo que nunca vamos saber a íntegra do que aconteceu no Brasil entre 1964 e 1985. Por conta disso, coube ao SBT contar mais sobre a ditadura, mostrando inclusive o lado dos militares e também os erros da esquerda, coisa que a Globo não fez em Anos Rebeldes, quando romanceou demais a história dos protagonistas e esqueceu o que deveria importar para o público, que era o contexto histórico, pois, afinal, o foco principal não deveria ser os Anos Rebeldes
Ao mostrar os dois lados da história, Tiago Santiago, autor de Amor e Revolução, conseguiu aproximar a novela da realidade e, ao mesmo tempo, mostrar as falhas não só do regime militar como também dos comunistas, sem passar aquela ideia de que era o modelo ideal de governo. 

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