Pular para o conteúdo principal

Crítica da Semana: Gonzaga – De pai para filho (o filme)


No ano passado, chegou às telas de cinema a história de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, dois grandes nomes da música popular brasileira que construíram suas carreiras debaixo de muito sacrifício e dificuldade.
Baseado no livro Gonzaguinha e Gonzagão – Uma história brasileira, de Regina Echeverria (que foi relançado no ano passado), o filme foi lançado bem próximo ao centenário de Luiz Gonzaga tendo como ponto de partida o encontro entre pai e filho depois de muitos anos de afastamento e mágoa.
No decorrer do filme, Gonzaga relembra momentos de sua vida enquanto Gonzaguinha grava em um gravador, como se o estivesse entrevistando. Na realidade, essas gravações realmente existem e foram entregues a Regina Echeverria, que inclusive cita algumas passagens no livro. Além disso, ao contrário do filme, no livro ela fala também da vida de Gonzaguinha, uma vez que no filme o que ficou em evidência o tempo todo foi a vida do Rei do Baião, provavelmente por conta do centenário.
Apesar de achar o filme bom por mostrar a vida de Luiz Gonzaga e as brigas que os dois tiveram protagonizaram durante quase toda a vida até aquela conversa, a partir da qual finalmente viveram como pai e filho, a sensação que me deu foi um grande vazio. Acredito que isso tenha acontecido porque ao ler o livro primeiro, acabei imaginando que o filme abordaria muito do que estava escrito ali, como, por exemplo, a convivência dos dois com a família de Gonzaguinha (mais precisamente quando este morava com a última esposa e também a relação de Gonzaga com os netos Daniel, Fernanda, Amora e Mariana), a morte de Gonzagão e, porque não, a carreira de Gonzaguinha, que foi praticamente ignorada no filme, uma vez que foi reduzida a algumas músicas na trilha, umas duas ou três cenas dele cantando e duas cenas com a capa da revista Veja que trazia a entrevista que Regina Echeverria fez com Gonzaguinha, em 1979. Por conta de tudo o que ele representou na história da música brasileira e também por ser fã dele como de nenhum outro cantor/compositor contemporâneo, acho que a vida de Gonzaguinha merecia muito mais destaque do que teve de fato.
Mesmo com a falta que fez ver a vida de Gonzaguinha no filme, um ponto que foi muito interessante foi mostrar Odaleia, a mãe de Gonzaguinha, muito bem interpretada por Nanda Costa. Entretanto, foi revoltante ver Gonzaga dizendo para ela que Gonzaguinha podia nem ser filho dele, o que foi usado pela segunda mulher dele, Helena, e também pela mãe dela para humilhar o menino desde pequeno.
Apesar disso tudo, Gonzaga – De pai para filho (aliás, título bastante irônico se formos pensar que ele foi o primeiro a duvidar dessa paternidade) é um bom filme para quem quiser conhecer esse grande artista que foi Luiz Gonzaga, com seus erros, acertos, sua história e sua música, que foi a grande (e melhor) herança que ele nos deixou.
E a partir de terça-feira, a Globo vai exibir em quatro capítulos dessa história em forma de microssérie. Espero que dessa vez alguém tenha se lembrado de mostrar a arte de Gonzaga Júnior, que pode não ter sido tão grande quanto a de seu pai, mas com certeza foi bastante intensa e importante para o período em que ele viveu.
      

Comentários

  1. Também acho que o filme poderia ter trabalhado as carreiras de pai e filho em paralelo, e disso resultaria um trabalho bem mais rico. Mas o resultado alcançado é satisfatório, tendo em vista o objetivo mais documental do que propriamente musical.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Música no Cinema: Torn

Composta por Phil Thornalley,   Scott Cutler   e   Anne Preven , a música foi lançada em 1995 pela banda Ednaswap, mas só se tornou um sucesso quando foi regravada por Natalie Imbruglia, que a incluiu em seu primeiro álbum   Left of the Middle,  lançado em 1997.     Em 1999, Torn, que já nesta época era mundialmente conhecida, fez parte da trilha sonora do filme dramático Uma Carta de Amor , baseado no livro As palavras que nunca te direi, de Nicholas Sparks.

Revivendo a Trilha: Every Breath You Take

Lançada em 1983 no álbum  Synchronicity , da banda The Police a música de Sting e Mike Oldfield começou a fazer sucesso   no Brasil no mesmo ano, quando fez parte da trilha sonora da novela Voltei pra você , sendo interpretada pela banda . Aliás, Every Breath You Take  já esteve presente em outras trilhas sonoras de novelas brasileiras, como a novela Desejos de Mulher e o seriado Malhação .

Samba: o ritmo que é a cara do país

Hoje, comemora-se o dia do ritmo musical que mais retrata a alegria do povo brasileiro e que ao longo de sua existência colecionou verdadeiros “monstros sagrados” da música brasileira: o nosso querido samba, cuja primeira canção do ritmo, Pelo Telefone , foi gravada em 1917. Aliás, esse dia foi criado exatamente para homenagear um dos maiores artistas que o Brasil já teve um dia, Ary Barroso, pois foi nessa data que ele visitou Salvador pela primeira vez. Além do eterno compositor da Aquarela do Brasil , nesses praticamente 100 anos de samba o Brasil teve o prazer de conhecer grandes artistas do gênero, como Noel Rosa, Martinho da Vila, Pixinguinha, Paulinho da Viola, Adoniran Barbosa, Clara Nunes, Cartola e vários outros que ainda hoje são patrimônio da Música Popular Brasileira.   E para homenagear esse dia, nada melhor do que encerrar o post com uma música do Poeta da Vila, não é mesmo? O vídeo é do Som Brasil em homenagem a Noel Rosa, exibido em 2007.